1-VISÃO DA TERRA: O PROCESSO E O ENCONTRO

Durante uma prática de meditação no ano de 1996 no alto de uma montanha em Atibaia (SP), manifestou-se para nós uma visão de um valezinho num lugar florestal, visto desde muito alto.

 Ao mesmo tempo, outros sinais foram aparecendo, sempre apontando para o “sul”, que naquele momento ainda não sabíamos qual era.

Imediatamente deixamos as nossas atividades de uma vida em comunidade no campo e partimos, agradecendo as amizades e projetos construídos , com a intenção de seguir ao encontro da visão.

Como um presente da alma, acolhemos este lugar sutil dentro de nós antes mesmo de se tornar um lugar físico. Não sabíamos onde se encontrava e fomos atrás, a percorrer 5.000km num fusca celeste, o “Nahuel”.

Foram dois anos o tempo todo na procura. Conhecemos muitos lugares lindos, indo de Florianópolis aos Andes Argentinos, retornando a Santa Catarina e subindo para Diamantina pelo caminho velho do ouro.

Depois disso pensamos em dar uma pausa de um ano e naquele que pensávamos ser o último dia da busca achamos a terra. O “sul” era este vale de Antônio Carlos, em Santa Catarina.

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Em 2009, nove anos após havermos colocado a raiz e criado a dinâmica em Arawikay, uma tarde, fazendo uma trilha de 5 km para o alto dos morros que rodeiam a bioaldeia, fomos parar na parte de trás do nosso morro, entrando por um outro terreno, quase vizinho da RPPN de Caraguatá, que divisa conosco. Dali avistamos uma partesinha do mar e a ilha de Ratones em Florianópolis.

Para a nossa surpresa, ali abaixo e perto, estava o mesmo visual da imagem percebida na visão de 1996, na montanha em Atibaia “tal qual” (e do alto), com o teto de um casebre no meio da floresta.

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Sempre orientamos aos buscadores de ecoaldeias, sítios e sonhos para procurarem sua terra seguindo algum sinal sutil “maior”, permitindo que este sinal conduza até o lugar onde, com certeza, podem cultivar sua visão.

Procurar uma terra foi um percurso longo, com aventuras especiais no caminho e que foram nos preparando para perceber quais seriam as características reveladoras e os potenciais numa vida neo rural.

Aprendemos como evitar problemas insustentáveis, preservando o futuro de construções ou empreendimentos que atentassem contra o ecosisstema.

Passamos a observar como era o potencial de cada região e que tipo de atividades oferecia. Observamos também qual a nossa distância ideal das cidades maiores e menores para que tivéssemos um mínimo de infraestrutura por perto. Que fosse distante o suficiente para nos mantermos longe da agitação de centros urbanos, por pelo menos algumas décadas e viver assim a maior experiência possível da pureza do mundo natural.

Pesquisamos as características da vizinhança na região, suas atividades e distintos níveis de segurança. Observamos a preservação das águas e das florestas dentro e no entorno. Vimos a possibilidade de trabalhos temporários, a curta e média distância e o potencial para criarmos bons vínculos nas proximidades e as áreas de interesse culturais, urbanas, turísticas, marítimas, rurais,  para iniciar novos relacionamentos pessoais e profissonais.

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Vimos naquele dia do encontro com a terra a beleza do lugar, sua energia, o que precisava logo ser equilibrado e principalmente restituído; o que deveria ser retirado e o que poderia ser produzido, sem saber de potenciais que viriam depois.

 Nós deixamos propositalmente de lado viver a partir de uma produção rural (não sabíamos ainda como produzir). Nosso sustento veio de pequenos cultivos e artesanato comercializados e trocados em feiras ecológicas e solidárias.

Com o tempo passamos integrar a vida acadêmica universitária, dando aulas, mas três anos depois nos dedicamos integralmente ao sitio, numa outra forma de receber pessoas em vários tipos de programas e linguagens, tendo como ponto forte os sistemas de cultivo agroecológicos, arte celebrativa, autoconhecimento e cura natural.

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Foram épocas experimentais e seguem sendo, como desafios que nos fazem envolver na busca de novas habilidades. Nossa curiosidade nos atiça a responder na prática como sustentar todas as forma de vida; revelar os caminhos de cura; aprender como celebrar a abundância; desfrutar de períodos de quietude; integrar os momentos de sair para um trabalho fora e voltar para se centrar no trabalho dentro do ambiente cercado pela floresta.

Foram e são períodos contínuos de reflexão, de conhecer em que ciclo estamos no planeta e o que é necessário fazer da nossa parte, junto aos que se somarem temporariamente e futuramente na residência permanente dentro do anel ecológico de moradias que estamos abrindo.

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A visão é como um chamado sem palavras e não apresenta ideias anunciadas de como fazer, mas está ali sempre, vibrando e trazendo o imprevisível com um novo momento.

No entanto, aprendemos a nos desapegar das amarras do sistema, sem estar fora deste e sim, dentro do mesmo, recriando uma cultura local rural, assumindo como iniciativa o que nos corresponde promover como mudanças criativas e simples, dando acesso a todo tipo de pessoas.

Chegar no lugar e momento “certo”, criando e transformando um lugar num potencial saudável, aperfeiçoando a qualidade de vida em todas as áreas necessárias é sempre uma escola de vida, nunca acabada, porque a humanidade e o planeta também estão sempre mudando. Assim, a educação e auto educação necessitam acompanhar este andar, ritmo e pulsação. E o melhor…estamos sempre a caminho…