3-PIONERISMO COM AS MÃOS NA MASSA!

CRIANDO O COTIDIANO E A DINÂMICA –  CURA AMBIENTAL

Quando chegamos na terra verificamos certa poluição dada por inúmeros objetos jogados e  enterrados dentro das florestas por décadas. Iniciamos a limpeza considerando a necessidade de devolver a saúde natural ao ambiente, o que propiciou o retorno de uma outra energia.

Retiramos todo tipo de muros e fios de luz cruzados esticados nos pastos, devolvendo também um  visual natural, seguido de uma máquina que reorganizou pedras propiciando uma abertura na frente das casas e a possibilidade de plantar e utilizar o espaço para outras dinâmicas.

Retiramos as espécies invasoras (como capim de boi e outros), permitindo acelerar o reflorestamento natural nos primeiros anos dentro de uma mata inicial e secundária no entorno das estruturas, enquanto as florestas preservadas mais no alto alí estavam vibrantes.

»«»«»«»«»«»«»«»«»«»«»«»«»«»«

Com isto os pastos que antes eram para gado diminuíram consideravelmente até a vegetação evoluir naturalmente, para depois recém começarmos a fazer pequenos manejos florestais em alguns ciclos. Uma única vaca prenha era moradora na propriedade, e a partir de ela se fez um banco de humus que passaria a agregar vida aos canteiros e pequena horta.

Quando chegamos ela já estava e tinha nome: Estrela. Quando sua linda cria nasceu, demos a ela o nome de Mandi (porque era toda marrom, com a barriga branca – parecendo uma mandioca).

Estrela e Mandi viviam soltas e se ocuparam de manter algumas escolhidas áreas de pasto sem crescimento de vegetação grande, para que pudéssemos usar essas áreas para futuras moradias.

O humus ficou abundante e aproveitamos para levar o excedente para vender nas feiras, em pacotes de papelão.  Estrela e Mandi, nossas parceiras da agricultora natural também propiciaram a plantação de inúmeras goiabas, pitangas e algumas outras espécies.

A Estrela foi para o céu (será que para a constelação de touro?), mas a Mandi continua na terra.

»«»«»«»«»«»«»«»«»«»«»«»«»«»«

Na propriedade foi aparecendo o desenho do uso que poderíamos fazer ou não, na medida em que florestas cresciam e potencializavam belos recantos e paisagens para distintas dinâmicas. Por ser uma geografia irregular, surgiam os locais para plantações ou para potencializar crescimento de espécies dentro das florestas. Com isto nascia o potencial para as dinâmicas diversificadas, enquanto se revitalizava o sitio energeticamente e de forma vegetal, sem nenhum uso de agrotóxicos.

O restante de terreno com maioria preservada tornou-se um corredor natural de espécies vivas, animais selvagens, compondo pontes com outros núcleos florestais na região próxima.

As atividades educativas de artes, saúde natural , agricultura, lazer e retiro vinham com um campo propício para revitalizar a nós mesmos e aos visitantes que chegaram inicialmente em pequenos grupos para programas de mutirões.

Logo fizemos parte de um intercâmbio entre sitiantes (cinco sítios), onde subir a uma camioneta com ferramentas e ir ou receber o apoio de outros sitiantes era uma comemoração, deixando em cada sitio um impulso para o ano todo. Desde plantar, levantar um viveiro, pintar casas, limpar, roçar, etc. e ainda conviver pacificamente, se transformaria na proposta onde o espírito da cooperação e intercâmbio sempre seria semelhante às características de interdependência dentro da natureza.

»«»«»«»«»«»«»«»«»«»«»«»«»«»«

Ao mesmo tempo, nos dedicamos a uma pequena produção rural, com canteiros de hortaliças e colheita de árvores frutíferas existentes (bananas, tangerinas, laranjas), além do nosso preparo de mudas para venda e artesanatos vindos de produtos da natureza.

Comercializamos pequenas quantias para parte da subsistência básica e algum excedente que daria o sustento básico e saudável para cada mês. Passamos a vender nas primeiras lojas de produtos naturais da ilha, em ferias específicas e no local. Junto a isto, o trabalho de educação ambiental, arte, atendimentos de saúde natural, entre outras vivências, acontecia dentro do projeto.

A criação de artesanato com conceitos ecológicos teve seu período inicial inserido em movimentos de grupos de ferias ou eventos da Economia Solidária. Mudas e alguns podutos eram vendidos em eventos dentro de atividades da Rede Ecovida, onde éramos participantes e colaborando com o desenvolvimento da mesma, participamos de eventos que promoviam trocas, vendas no comércio justo e conhecimentos. Trabalhamos em diversos ciclos, com vendas pequenas aos visitantes. Uma pequena venda mensal de produção de mudas era e é destinada para feiras de cursos prolongados e particulares sob encomenda.

»«»«»«»«»«»«»«»«»«»«»«»«»«»«

Todo participante entrava e entra na Bioaldeia Arawikay conformando uma família temporária, como um aldeão. Somos duas pessoas residentes fixas no local desde o início, recebendo os ecopraticantes numa residência temporária de 5 dias a um mês, num rodízio durante o ano. Atualmente trabalhamos com estadias para viver o cotidiano de 6 até 15 dias (podendo estender a permanência a partir de acordos).

Outras pessoas que não moraram ou moram no sitio e que chamamos de “guardiões do projeto” fizeram parte em vários ciclos da aldeia/ecoaldeia/bioaldeia, apoiando espiritualmente nossa caminhada ou numa troca de reflexões e consultas.

»«»«»«»«»«»«»«»«»«»«»«»«»«»«

Ensinamos alguns ofícios aos ecopraticantes (que também nos ensinaram muitas coisas ) e  aproveitamos para criar produtos, como pequenos móveis, objetos utilitários ou decorativos  com o objetivo de trabalhara a favor do envolvimento da vontade e da criatividade, deixando de lado todo tipo de sedentarismo ou dependência de terceiros.

Os objetos utilitários foram criados a partir de aproveitamento de boa madeira antiga guardada no engenho e outros objetos interessantes em desuso que passaram a ser o nosso “banco de materiais reaproveitáveis”.

Logo depois descobrimos o maior potencial onde se encontrava a matéria prima vinda da terra naturalmente:  o “banco orgânico da floresta”. Com isto começamos a entender o ciclo da economia local onde o consumo poderia acontecer com menos impacto, com novos hábitos sendo parte de uma pequena produção sustentável e educativa.

Propiciar baixo impacto à natureza e viver com mais plenitude foi a dança de cada dia, enquanto o nosso interesse e comunicação com o mundo urbano se tornou mais seletivo e reaprendemos a nos vincular com este melhor complementando a vida rural.

»«»«»«»«»«»«»«»«»«»«»«»«»«»«

Com a chegada da internet muita coisa mudou na forma de administrar a divulgação, os vínculos e pesquisas. Aprendemos a otimizar este recurso, mas entramos num ciclo onde ficou presente o sedentarismo dos visitantes pelo mal uso da tecnologia da internet e a perda da vontade de criar e ser mais independente. As atividades oferecidas trouxeram mais ênfase no autoconhecimento e revitalização, o que levaria naturalmente a lembrar como cuidar de si mesmo a partir do entendimento e conexão com o mundo natural.

A cura ambiental foi um espelho da cura interior e corporal que visitantes e residentes vivenciaram e vivenciam como um processo de conscientização da nossa ação individual e o impacto que essa ação produz no coletivo social e no planeta.

Estamos sempre a caminho…