4-INSPIRANDO-NOS NO ECOSSISTEMA
Dentro do projeto e dinâmica de Arawikay invertemos o caminho comum de primeiro ter uma ideia e depois tentar levá-la para frente.
Isto significou certo desafio, uma vez que a tendência natural é conduzir o que queremos conquistar, em vez de estarmos abertos para que isto chegue a nós com mais mistério, surpresa e abundância.
Tivemos que escolher realizar um projeto flexível e orgânico, num movimento interdependente com os visitantes, celebrando a diversidade cultural e entendendo que uma vida orgânica significa constante observação e percepção de mudança.
Cada acontecimento partiu de desafios inesperados, como também a chegada imprevista das soluções, vindas pelo contato com o entorno natural, por insights de sonhos, na meditação, vindo de habilidades de pessoas visitantes ou pelas nossas experiências de grupos anteriores.
Não foram as nossas ideias sobre o que fazer no sitio que nos conduziram, mas sim a nossa aproximação sensível e abertura para aprender a observar e receber orientação de todo o ecossistema.
Na própria dinâmica com as pessoas em diversos ciclos fomos descobrindo como agir para criar um relacionamento social com qualidade e uma produção ecológica básica composta de algumas variedades possíveis de alimentos e, havendo excedentes, propiciar algumas vendas ou trocas.
A graça foi testemunhar como tudo isso foi nos transformando na interação, como pessoas e como iniciativa, num andar sem conclusão, mais para “viver a experiência sem tempos”, o aqui e agora e vendo como podemos construir juntos.
Nos últimos 20 anos recebemos visitantes significativos e graciosos como: um andarilho italiano ex-postino (carteiro); um engenheiro catalão de criação de energias alternativas high tech; um peregrino que vivia como um essênio; uma permacultora da Cornualha com rosto e cabelos de fada; uma médica e escritora alemã, que alertava sobre o uso das vacinas e o sistema farmacêutico mundial; um policial necessitado de floresta; um monge beneditino; uma enfermeira de Médicos Sem Fronteiras; uma boquímica que fazia alquimias com temperos na cozinha; uma bombeira da Amazônia; uma mãe anciã portuguesa que andava em trilhas melhor que qualquer jovem; brasileiros entre 33 e 35 anos estáveis financeiramente não se permitindo mais ser parte de industrias multinacionais ou comércios agressivos ao meio ambiente vindo em procura da própria cura e uma visão; e muitos outros homens, mulheres, jovens e crianças interessantíssimos.
Isso sem falar nos animais… Jadi e Luneta (gatas fofas), Allegretto (o labrador guia), Estrela e Mandi (as vacas encantadas), Galilea(a ovelha labradora), Nuno e Januária (nossa primeiras amizades rastejantes), Ginger e Roger (o casal de lagartos), Bruno, Ritinha e Rococo (o trio de sapos), Lucrécia (o inseto mais exótico do mundo), as Flikas (aranhas) e muitos outros seres animais, vegetais e minerais com quem estivemos e estamos interagindo todos esses anos.
Nossos queridos pais anciãos foram presentes em muitos momentos, na longa distância. Em tempos significativos nos deram uma alavanca, assim como o que da Aldeia pudemos oferecer, eles receberam de alguma forma. Nós passamos a ampliar o sentido de família para a família “aldeã” – aqueles que passavam um tempo conosco, levando ao entendimento da família humana, a Aldeia do Planeta.
Os desafios passaram a ser uma escola única. Dentro destes as habilidades precisavam surgir para nos adaptarmos a um movimento inesperado. Assim, a improvisação era parte do jogo, que com o passar dos anos se tornou conhecimento e este foi sendo repassado aos visitantes para motivar suas buscas. Dentro do projeto maior de Arawikay, o sitio se mantêm com interessantes trocas de mútuas habilidades com os participantes.
A preservação de Arawikay foi sendo e é cada dia mais forte como ecossistema. As florestas estão intensas e abundantes. O ambiente tem a sua pureza e brotaram mais nascentes de águas.
O contraste desse lugar pacífico foi desafiado com alguns temporais, por exemplo, destruindo nossa primeira horta, ou um granizo detonante (este nada comum na nossa área) que acabou com as folhagens de toda a floresta. Pareceu o fim do mundo. E, em um mês, tudo voltou a uma vitalidade incrível.
Nós aprendemos a passar da decepção para o entusiasmo, ao descobrir o potencial de uma tempestade. Isto se converteu num recurso e não numa perda. Todo temporal simplifica a obtenção de matéria prima e não precisamos tanto uso de máquinas manuais e até menos procura por mão de obra forte e paga.Tanta madeira caída (galhos) para fazer artesanatos e móveis, e cobertura de folhagem para as hortas sem necessidade de esforço para procurá-la ou transportá-la e a descoberta de um novo espaço útil quando cai uma árvore, ou um grande galho que permite realizar alguma nova atividade e uso de espaço. Tudo está pronto para colher em quantias se observamos bem.
Chegou à nossa consciência o estímulo de como pensar para proteger cultivos ou simplesmente ver onde os ventos se direcionam e onde pode haver proteção para isso. Descobrimos na prática diária como é importante aprender a ter uma diversidade de ingressos financeiros em diversas áreas culturais a partir da visão do sítio.
Procuramos conquistar uma economia básica interdependente e não dependente e compartilhar os excedentes, vende-los, trocar. Uma horta se torna uma escola. Um curso de danças se vincula à natureza, aos cultivos, à alimentação, criando pontes significativas. O meio ambiente não é somente um recurso, ele é o mestre, a energia, a voz que fala silenciosamente em todos nós. Etambém não é meio, e sim, inteiro ambiente.
O ecossistema e suas funções e características, além do seu mistério, é um excelente exemplo para nos espelharmos sobre os nossos vínculos: como agir em grupo, como ser parte da sociedade e reforçar os valores, como aprender sobre a espiritualidade que a Mãe Terra nos apresenta e qual o vínculo com o Cosmos, como administramos as nossas vidas neste grande organismo vivo, que é a Terra.
Ampliando a percepção, descobrimos que isto é um caminho sem fim. Temos eternamente que aprender a “ser” em plenitude e “deixar ser” a todo ser humano e a todas as espécies vivas.